quarta-feira, 27 de agosto de 2014

MORRE AOS 39 ANOS O EX ATACANTE DE CSA E CRB MISSINHO!


    Os amantes do futebol paraibano acordaram tristes nesta quarta-feira, ao receber a notícia da morte do ex-atacante Missinho, de 39 anos, em decorrência de um câncer no esôfago. O jogador começou a carreira no Nacional de Cabedelo em 1992 e teve passagens em clubes como Cruzeiro, América Mineiro, Avaí, Rio Branco de Americana-SP, Vila Nova-GO, CSA, Bahia, e foi ídolo no Botafogo-PB e no Auto Esporte. O atleta morreu nesta terça-feira, no Hospital Napoleão Laureano, e foi enterrado na manhã de hoje, no Cemitério Municipal de Cabedelo. 
Além dos times da capital, Missinho teve passagens pelo Nacional de Patos e pelo Miramar de Cabedelo, onde encerrou a carreira em 2012. O clube da cidade natal do atacante participou da 2ª divisão do Campeonato Paraibano daquele ano. 
O jogador descobriu que tinha câncer no esôfago há quatro meses e vinha fazendo o tratamento indicado pelos médicos. Segundo o técnico de futebol e amigo de Missinho, Maurício Cabedelo, o atacante chegou a fazer sessões de radioterapia, mas não resistiu à doença. Os dois iniciaram a amizade quando jogaram juntos no Belo e foram transferidos no mesmo ano para o Cruzeiro. 
- Quando ele descobriu, o câncer já estava bem avançado. Missinho não chegou a fazer nenhuma cirurgia para a retirada do tumor. Ele fez apenas uma traqueostomia para ajudar na alimentação e na respiração. É uma perda muito grande para o futebol paraibano e ainda mais para os amigos e para a família - disse Maurício Cabedelo. 
Na sua carreira, Missinho colecionou passagens marcantes pelos clubes que defendeu. No CSA, ele foi o artilheiro na campanha da Copa Conmembol de 1999, com quatro gols  . A equipe de Alagoas disputou o título da competição internacional com o Talleres, da Argentina, mas perdeu por 4 a 2 e foi o vice-campeão. No Botafogo, Missinho fez parte do elenco que conquistou o título paraibano de 2003. 
Maurício Cabedelo relembrou o talento do amigo e lamentou o fato de Missinho não ter tido uma repercussão maior no cenário do futebol. Para o técnico, os problemas pessoais podem ter interferido nos rumos da carreira do ex-atacante. 
- Ele era um cara do bem. Era calmo e calado na maioria do tempo, mas era um supercompanheiro de time. Sem falar no profissional que ele era. Missinho era um atacante consistente e fazia a diferença nos clubes em que ele passou. Ele tinha tudo para estar entre os grandes nomes do futebol nacional, mas os problemas pessoais o afetaram demais ao longo da carreira. É muito triste perder um amigo dessa forma - contou Maurício Cabedelo. 
Missinho encerrou a carreira de jogador em 2012, após defender o Miramar de Cabedelo na 2ª divisão do Campeonato Paraibano. A equipe chegou a liderar a competição, mas foi superada por Atlético de Cajazeiras e Cruzeiro de Itaporanga, que conquistaram o acesso para a elite do futebol local. 
De acordo com Maurício Cabedelo, Missinho chegou a trabalhar por seis meses em um moinho na cidade de Cabedelo após deixar o futebol. O amigo contou que o ex-atacante estava desempregado nos últimos anos. Missinho tinha 39 anos, estava no terceiro casamento e deixou três filhos, das duas primeiras uniões. 
Notas de pesar 
Ao saber da notícia da morte, o Botafogo-PB e o Auto Esporte publicaram notas de pesar em seus sites oficiais. A diretoria do clube alvinegro declarou que está enlutada e relembrou os momentos do jogador no Belo. Já o Auto Esporte prestou condolências à família. 

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Ruy Cabeção detona cartolas brasileiros: “Ladrões”

movimento bom senso fc  Ruy Cabeção (Foto: Reprodução / Instagram)
  Vagabundos. Estelionatários. Ladrões. Bundões. Malandros. Os adjetivos usados por Ruy Cabeção para se referir aos dirigentes brasileiros (não todos, ele ressalva) evidenciam um jogador que se desligou de todos aqueles freios tão exigidos na diplomacia do futebol. Justifica-se: ele tem quase nada a perder. Aos 36 anos, jogando no Operário-MT, da Série D do Brasileirão, o atleta é uma espécie de representante dos pobres no Bom Senso FC. Dos líderes do movimento, é aquele que mais vivencia as dificuldades dos jogadores eclipsados pelos mais famosos: aqueles que por vezes não têm dinheiro sequer para comer.
É a Ruy, que chega a divulgar seu telefone em redes sociais, que esses atletas mais recorrem. E é ele, entre os líderes do Bom Senso, quem mais ataca a estrutura do futebol brasileiro. Se jogadores como Paulo André, Alex e D’Alessandro são sempre críticos em suas manifestações, Ruy é mais que isso: é ácido, é agressivo. Fala o que dá na telha, como na entrevista abaixo, em conversa de uma hora e meia por telefone.
Na semana passada, o Barueri, por atrasos de salário, se negou a atuar justamente contra o Operário, o time de Ruy, que liderou um gesto de apoio ao adversário: sugeriu que os atletas do clube do MT se deitassem no gramado. Para ele, a ação da equipe paulista pode abrir o caminho para movimentações iguais de outros times:

- Os verdadeiros ídolos do nosso futebol hoje são os jogadores do Barueri.
É interessante observar que a liderança do Bom Senso tem jogadores consagrados, que atuam em clubes da Série A, casos de Dida, D’Alessandro, Alex. Você acaba sendo o representante dos menos famosos? Eles procuram você, pedem sua ajuda?

É por ter jogado 11, 12 anos na Série A e depois passado pela B, pela C. Eu conheço todos os estágios do futebol brasileiro atualmente. Como hoje sou um atleta praticamente autônomo, meus contatos são abertos em redes sociais, por ter passado por aquilo que 90% dos jogadores enfrentam, virei porta-voz de todo mundo. Recebo mensagens, ligações de atletas de outros clubes que passam por situações delicadíssimas. Através dos contatos que tenho, tento ajudar naquilo que nos cabe. Minha identificação com esses atletas é importante. As pessoas me conhecem, sabem meu caráter.

E que impacto isso deixa em você? Que cenário você cria com as histórias que esses jogadores contam? 
Bicho, o cenário não é assustador pra mim, não. Deixa eu explicar. Tive uma passagem pelo Alecrim-RN, contratado pela patrocinadora do clube (a construtora Eco House), de um dirigente inglês (Anthony Armstrong-Emery), que foi muito bem por seis meses e aí começou com atrasos periódicos. Aí foram jogadores correndo risco de despejo... Vi jogador passando cartão no supermercado e não tendo dinheiro na conta. Não tinha o que comer em casa e me ligou desesperado. Vi jogador que tinha filho doente e não tinha dinheiro em casa. Ou seja, eles não precisam me contar nada. Eu mesmo presenciei tudo isso. Acontece que esses garotos se sentem intimidados. São chantageados por dirigentes. A maioria não tem noção de seus direitos. E os dirigentes, geralmente muito mais instruídos, de uma índole ruim, para não falar vagabundos, estelionatários, ladrões, que se utilizam dos clubes para fazer suas falcatruas, fazem com que os jogadores se sintam intimidados. Eles não sabem a quem recorrer. Nossa briga é para que o futebol se transforme numa empresa. 
Isso resolve?
Eu tive uma empresa (de pão de queijo, junto com o pai). E tinha que pagar meus impostos, recolher fundo de garantia. Se eu não fizesse isso, minha empresa seria fechada. No futebol, não é assim. O cara entra pobre e sai rico. Já cansei de ver diretor entrar no clube com um carro e seis meses depois ter o melhor do ano. O problema no futebol é a falta de fiscalização. Mas isso não é culpa apenas do dirigente. A cabeça tem que mudar geral. A imprensa fala que jogador tem que honrar camisa mesmo com salário atrasado. Não tem que honrar nada. Eu penso em ser dirigente ou treinador um dia. Treinador fala que isso não pode influenciar quando o jogador entra em campo. Mentira! Não tem como exigir do atleta um alto rendimento se ele tem escola do filho atrasada, plano de saúde atraso, conta no banco no vermelho, luz atrasada. É impossível ter cabeça boa. O jogador virou escravo da lei, escravo dos clubes. Ele só pode se desvincular no terceiro mês. Quando está perto de fechar três meses, pagam um. No fim do ano, dispensam o elenco. Os que ficam vão receber em janeiro. Os outros vão para a Justiça.

Há clubes com salários atrasados nas Séries A, B, C e D. Um caso exemplar na A é o Botafogo. É verdade que você tem dinheiro a receber do Botafogo desde a década passada?

Entrei na Justiça contra o Botafogo em 2007. Já são sete anos. Tenho a ação ganha, mas não recebi ainda. O Botafogo tinha uma espécie de fila de credores. Meu advogado explicou que eu era o número 132. Havia 131 na minha frente. Vou receber daqui a dez anos, talvez nem isso. Com esse inglês do Alecrim, fiz um acordo judicial para me pagarem em nove meses. E o cara é milionário. Sabe quantos meses ele me pagou?

Não sei. Nenhum?

Nenhum! Esses empresários sabem que a Justiça é lenta, ainda mais no futebol, então querem mais é que entre na Justiça. A pior coisa é o fato de esses dirigentes não serem remunerados. Porque aí, se atrasa no clube, ele não sente. Na casa dele, não falta nada. Quando sair do clube, não perde nada. O futebol tem que ser profissional do dirigente ao funcionário que cuida do vestiário. A mentalidade do jogador está mudando, é igual à da população. A população está indo para a rua.

O que explica que mesmo clubes grandes, e é o caso que falávamos há pouco, do Botafogo, não consigam pagar em dia?
O que acontece é a impunidade. Esse querido aí, o Eike Batista, não teve problemas com as empresas dele e teve que sair vendendo tudo para quitar? No futebol, não acontece isso. Se a gente quiser, eu e você, montamos um clube ou viramos presidente do Botafogo. E aí saímos, e a próxima gestão que se vire. São poucos os dirigentes no Brasil que tentam zelar o nome que têm. Que se preocupam em colocar a cabeça no travesseiro e conseguir dormir. Outros, não. Não estão nem aí. O futebol, para muitos, é hobby. É status. Serve de trampolim para uma candidatura política. Estão pouco se lixando para a entidade. Se o Brasil não tiver hoje a pior estrutura do mundo para jogadores atuarem, estamos perto disso. É bacana termos um Cruzeiro, onde joguei em 2001 e já tinha dez anos sem atrasar salários. Hoje, continua da mesma forma, tem dois CTs, administração bacana. Colhe os frutos de 20 anos atrás. Se estivesse no eixo Rio-SP, teria a credibilidade do São Paulo. Mas é fácil falar desses clubes. Desafio qualquer um de vocês, da imprensa, a rodar os clubes do interior dos estados, chegar de repente e ver as condições de trabalho de meninos da base. A situação é miserável. A gente vê, e é muito triste, pessoas passando fome em comunidades. Pois tem muito disso nos clubes. Às vezes, nem água tem. Já tomei banho de caneca. 

Onde?

No Alecrim mesmo. Cheguei a ser chantageado (saiba mais aqui). Tinha acordo pela liberação, me fizeram gravar um vídeo dizendo que eu tinha acertado tudo com a construtora. O futebol é igual montanha-russa: um dia você está em cima; no outro, embaixo. Esses jogadores que estão na Série A, na elite, precisam saber que um dia a idade chega, os empresários viram a cara, e eles vão estar na situação de Série C, Série D, e vão sentir na pele. O Romário pegou nossa causa. Ele está ao lado do Bom Senso. Mas muitos outros poderiam estar contribuindo muito e não estão, porque só pensam no seu umbigo. Os verdadeiros ídolos do nosso futebol hoje são os jogadores do Barueri.

Por não terem jogado?

Eles tiveram a coragem de não entrar em campo. 
Você sabia que eles fariam isso?

Eu sabia que havia esse movimento do Barueri. Alguns jogadores do Operário têm conhecidos lá. Antes do jogo, os meninos me passaram uma mensagem, os próprios jogadores, perguntando o que fazer. Disse que teriam que ver com o sindicato. Tenho o meu pensamento, mas não estou lá. É uma decisão de grupo. Mas eu, hoje, pararia o Campeonato Brasileiro. Só mudaria se tudo isso fosse para o papel, se todo mundo fosse punido se não cumprisse. Se atrasou, tem dez dias, ou o atleta está automaticamente liberado para trocar de clube. Isso força a trabalhar de forma correta.

Você tem mais de uma década como profissional...

Sim, 15 anos.

Nesse tempo, a situação melhorou ou piorou?

Em 2001, quando teve a Lei Pelé, fui o primeiro a pegar o passe. Quando me profissionalizei, em 1999, eu já tinha dificuldades de salários. O Botafogo foi campeão brasileiro em 95 com salários atrasados. Acabei de ver que mais um torcedor morreu, do Palmeiras. Olha, Deus é brasileiro, porque fez com que a gente não ganhasse a Copa e despertasse. Se vencesse, essa baderna iria se perpetuar. Se não for feita alguma coisa agora, te digo o que vai acontecer em cinco anos: vai ter clube grande de portas fechadas. Muitos não fecham a porta porque têm muita torcida. Os salários vão continuar atrasados. Torcedor vai continuar matando torcedor. E presta atenção nisso: daqui a pouco, vai ter jogador sendo morto. E isso por impunidade. Todo mundo adora punir jogadores, e temos parcela de culpa, somos um exemplo, mas se somos punidos, as pessoas que estão no estádio precisam ser punidas também. O cara que dizem que matou o outro é vereador (Raimundo Faustino, do PT. Sua defesa nega as acusações). É inadmissível. O cara sai da cadeia, cumpriu parte da pena, e mata de novo. Tá tudo errado, cara. Tudo errado.

Você acha que a classe dos treinadores está do lado dos jogadores?
Tem vários tipos de treinadores. Tem aquele que bate no peito e faz o que quer. E tem treinador que só quer segurar emprego, faz boa política, puxa o saco da direção para não perder o emprego dele. O treinador que pensa assim está dando um tiro no pé. Quem corre pelo treinador é o jogador. Sou fã do Muricy, bicho. Nunca trabalhei com ele, mas o que ele fala é verdade: é 70% jogador e 30% treinador. O Muricy viveu anos e anos no São Paulo. Eu estive no Fluminense. A distância é de 100 anos de diferença. Prometeram mundos e fundos ao Muricy. E ele ia ficar ali? Ficar cobrando os jogadores, enchendo o saco, sem ter nada na retaguarda? Os jogadores acabam baixando a cabeça e correndo porque têm que correr, porque são uma empresa privada. Ali, mostramos nosso produto. Corremos, lutamos. 
O Barueri, ao não ir a campo, abriu o caminho para gestos parecidos?

Acho que sim. O pessoal do Icasa já se manifestou, do Paraná também. O Ipatinga devia cinco meses na Série B. Agora, vários atletas disseram que estão sem receber desde março. Como que um clube desses está aberto? O mesmo diretor daquela época continua lá, cara. De onde esse diretor tira dinheiro para viver, se não tem para pagar os jogadores? Cadê a polícia que não bate lá?

Você sente falta de maior penalização aos dirigentes?
Com certeza. Se houvesse condenação penal, de ele ser preso, melhoraria. Um dirigente diz que recolhe FGTS e não paga nada. É crime! Está na constituição! Se tiver uma lei que faça o cara responder, que faça com que ele responda com o patrimônio dele, 80% dos caras que pensam em ser dirigentes para fazer falcatrua vão sair do negócio. Por que grandes empresas têm fiscalização e o futebol não? Nunca vi alguém do Ministério do Trabalho ir a um clube. Aqui no Mato Grosso, nem sindicato tem. Nosso futebol é amador. Hoje, praticamente pago para jogar. E tem jogadores em situação pior que a minha. Daqui a pouco, vai ser esporte de elite. 

Existe espaço para um gesto maior, coletivo, de paralisação? Ou é inviável?

Espaço existe. Quantos clubes estão pagando em dia? Não do jeito que falam que pagam... Vai contar três, cinco clubes na Série A, mais uns cinco na B. Se contar C e D, estamos perdidos. 

Mas existe um movimento nesse sentido?

A vontade está em todos. A grande maioria dos jogadores está saturada. A questão é que é muito difícil. No meu elenco, são 25 jogadores. Imagina a dificuldade de mobilizar. Cada cabeça é uma sentença. E aí muito clube tem influência de algum dirigente, de chantagear atletas mais novos, que vai manchar carreira, ficar marcado. Eles usam essa artimanha. É difícil mobilizar. 

Pelo que você fala, o momento é de ações mais pontuais, de elencos isolados.

Acho que a tendência é acontecer mais dessa forma. A não ser que aconteça com o apoio de um São Paulo, um Cruzeiro, um Internacional. Mas, se entrar em campo, tem que entrar e mostrar pra torcida: ó, tem seis meses de salário atrasado. Porque tem muito dirigente bundão que diz que tem salário rigorosamente em dia e depois diz que são só dois meses. Mas a classe acordou. Ninguém atura mais ser enganado.
O que me chama a atenção é que você resolveu falar o que dá na telha. Isso não pode prejudicar você no futuro? Ou vai sair do futebol?

Não é nem uma questão do que eu penso: é o que é certo. O que eu falo não pode ser polêmico. Foi como meu pai me educou. Ele me ensinou que é feio roubar, não fazer as coisas direito. Tenho 36 anos, treino todos os dias, cumpro meus horários, independentemente dos clubes onde passei. Sou profissional ao máximo. Mas a presidenta Dilma falou que estou no caderninho negro dos clubes grandes. 

Ela falou isso, é?

Sim. Sou uma ameaça a eles. Não consigo ser enganado mais. Olha essa questão do Botafogo. Pagam uns e não pagam outros. Mas o que é isso? Isso não existe! A atitude do Lucas está certíssima. Ele está certíssimo. Graças a Deus, tive meu momento, conquistei meus títulos, e hoje faço curso na Universidade do Futebol. Penso em continuar. Não vou deixar que esses dirigentes malandros acabem com o que faço desde os seis anos de idade.

O Bom Senso é um movimento recente. Antes dele, você já tinha essas brigas dentro dos clubes?

Desde que subi, sempre participei dessas questões. Quando subi no América-MG, o pessoal mais velho já me levava junto para discutir premiação. Nunca aceitava o que os dirigentes ofereciam. Batia de frente. Sempre tive um pé atrás com os dirigentes daquela época, a respeito de salário atrasado. Quando joguei no Náutico, o clube tinha fama de não pagar os últimos três meses. Em junho, julho e agosto, recebi dois salários juntos. O que aconteceu? Não pagou outubro, novembro e dezembro. Avisei a todos que meu salário estava em dia. Falei pro presidente (Maurício Cardoso), com quem me dou bem até hoje: “Presidente, você me pagou, mas não jogo bola sozinho. Pague o resto da rapaziada”. Ainda tenho que escutar dirigente vagabundo falar que não sou de grupo. Não sou de grupo para direção. Sou para o jogador. 

Existe algum clube que possa ser tomado como modelo hoje?
Você fala sobre futebol? Porque acho que esse movimento do Barueri, da Série B, deveria incomodar muito os jogadores que estão em cima. A coragem desses garotos foi impressionante. Eles deram uma mostra de que o futebol pede mudanças. Passou da hora. Se não for agora a paralisação geral, quem sabe daqui a cinco anos aconteça? 

Qual sua opinião sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte?

Se ela fosse aprovada como eles (dirigentes) queriam, com apenas a certidão de débito, seria para tapar buraco. Mas agora, como está sendo feito o acordo, com as reivindicações do Bom Senso, é diferente. Claro, a lei não vai ter só o que o Bom Senso quer. Mas se tiver 90% do que a gente pensa, essa lei já consegue dignificar o nosso futebol. Se fizer uma pesquisa hoje de credibilidade, a Federação Alemã ganha até do Congresso deles. Se fizer aqui, com a CBF, o que você acha? Bicho, isso não entra na minha cabeça. A CBF é uma confederação de futebol. Deveria se preocupar com o futebol brasileiro. É com os jogadores formados que se abastece a Seleção. E ela não demonstra interesse no futebol brasileiro. As federações estão falidas. Treze mil atletas estão desempregados. Muitos clubes não conseguem manter salários em dias. Rapaz, se sou chefe da minha casa e tenho esse tanto de problema, como que não vou agir? A CBF ganha milhões por ano, e nosso futebol está do jeito que está. Não somos a melhor seleção, estamos em 31º em público (34º, na verdade), nossos estádios estão vazios. 
O encontro com a presidenta Dilma deixou uma boa sensação em você? Ou foi em vão?

Só vamos poder saber um ano depois das eleições. Mas o jogador no Brasil só era recebido quando era campeão mundial. Já demos um grande passo. Uma coisa é o dirigente conversar com a presidenta. Outra coisa é nós falarmos para ela que não recebemos salário, que não temos condições de trabalho, que tem jogador há dez anos na Justiça e não vê a cor do dinheiro. A presidenta tinha uma imagem de que o futebol brasileiro era tipo a NBA. A imagem dela era essa. Que o jogador é o cara da NBA. Hoje, a liga americana (de futebol) já passou atropelado por nós. Passou por cima. Lá, não aceitam o errado. Aqui, o errado é certo. O malandro é certo. Se a presidenta não puder ajudar, ao menos ela fez o movimento ser ouvido. Só faltou ela cair da cadeira... A segunda reunião com ela foi um espetáculo. Já estavam secretários, ministros, e a presidenta estudou tudo, falou que ia tentar resolver. No momento, vejo que a intervenção tem que partir do governo. A CBF se mostra muito pouco receptiva a novas ideias. 

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

BASTIDORES DO WO DO BARUERI

jogadores do Operário deitados jogo Barueri (Foto: Marcos Bezerra / Futura Press)
   Ameaça de despejo, contas a vencer, comida escassa, nome no SPC (Serviço de Proteção ao Consumidor). Os jogadores do Barueri já conviviam com inúmeros problemas antes de decidirem não entrar em campo na última sexta-feira, contra Operário-MT, pela Série D do Campeonato Brasileiro. Mas os atletas só optaram pela greve quando um deles recebeu intimação judicial para pagar a pensão alimentícia dos filhos, que estava atrasada. Foi o estopim. Os advogados conseguiram administrar o caso do atleta em questão, mas o elenco não tinha mais dúvidas: com quatro meses de direitos de imagem atrasados, e dois salários devidos, não jogariam a partida contra o time mato-grossense.
   A atitude é um marco no futebol brasileiro. Os jogadores têm recebido o apoio de atletas de outras equipes que enfrentam o mesmo problema e prometem repetir o feito na próxima sexta, quando o time paulista tem jogo contra o Tombense, na Arena Barueri, pela sexta rodada. O elenco se reapresentou e treinou normalmente nesta segunda e terça. Na reapresentação, o grupo esperava uma resposta da diretoria, mas não houve acordo. Após visita de advogados e representantes do Sindicato dos Atletas de São Paulo (Sapesp) nesta terça, o prazo final foi estendido para esta hoje.
   A dívida total é de R$ 268 mil, que correspondem a quatro meses dos direitos de imagem – que correspondem a 80% dos ganhos mensais de cada jogador – e dois meses dos salários registrados nas carteiras de trabalho. Os atletas exigiram o pagamento de metade, R$ 134 mil, até a última sexta. Entretanto, o presidente do Barueri, o português Alberto Ferrari, ofereceu um cheque pré-datado, mas o grupo não aceitou.
   Antes de decidirem pela greve, os jogadores do Barueri foram orientados pelos irmãos e advogados da Sapesp, Thiago Rino e Felipe Rino, que os representam no caso, além do diretor de relacionamento do sindicato, Mauro Costa, a comunicarem todas as partes interessadas. A Federação Paulista de Futebol, CBF e a diretoria do Barueri souberam o que aconteceria, mas nada foi feito. Não foram vendidos ingressos para a partida contra o Operário-MT. Segundo os atletas, ameaças dos dirigentes foram feitas. Alegavam que a atitude extinguiria o clube e disseram que iriam prejudicar o futuro dos jogadores. Mas ninguém no grupo recuou. 
 O manda chuva do clube é Alberto Ferrari, que na verdade é José Alberto Dias Jeremias, é português, tem 55 anos e é proprietário da Academia K2. O dirigente também já dirigiu a Santacruzense, de Santa Cruz do Rio Pardo-SP, e protagonizou um problema semelhante em 2012, quando o elenco sofreu com a falta de pagamentos

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Está acima do peso? Descubra como correr 5 km com treino de 8 semanas!

POR GUSTAVO LUZ TÁVORA

 O cenário da corrida de rua nas principais cidades do país proporciona espaço para todo mundo. Você não precisa correr uma maratona para se considerar um corredor. Com uma corrida de 5 km você já sente o gosto do desafio e colhe diversos benefícios desse esporte, como a melhora na disposição, no sono, no humor a até na prevenção de doenças cardiovasculares, por exemplo. E se o seu objetivo é ficar com o percentual de gordura em dia e em paz com a balança, os 5 km também podem te ajudar. E acredite, para alguém que está sedentário e um pouco acima do peso, oito semanas, em geral, é um bom prazo para você se preparar com segurança para completar esses quilômetros (mesmo que alternando caminhada com corrida). Essa distância geralmente é a porta de entrada no mundo da corrida, são ideais para quem quer ganhar qualidade de vida e deixar para trás o sedentarismo, pois trazem mudanças de hábito e, principalmente, de comportamento. Se conseguir treinar pelo menos três vezes na semana, é bem provável que já consiga desfrutar dos benefícios do esporte. Você pode emagrecer e se tornar mais saudável, isso gera um impacto altamente positivo na sua autoestima. E logo se torna mais combustível para mais treinos. Se levar o treinamento a sério, a cada semana você pode se sentir melhor. O desafio é trabalhar a disciplina, pois é preciso persistência para conquistar um hábito novo. Mas lembre-se que os resultados mais significativos aparecem gradualmente, não pense apenas no curto prazo.

  Se é a sua primeira prova, aproveite para curtir esse desafio, só você sabe o que realmente isso significa na sua vida. Mas preste atenção, os novatos nos 5 km devem procurar controlar a empolgação e a euforia para não acelerarem demais logo no início. Quem começa forte demais pode quebrar e acabar a prova andando. Encare essa prova como o começo de um processo, foque mais na experiência de fazer uma corrida do que nos ponteiros do relógio.

  A musculação também pode ser uma boa para você que é iniciante, desde que se sinta bem e consiga ter um descanso adequado de todas as suas atividades (incluindo compromissos familiares e de trabalho). Alguns excelentes pesquisadores de corrida sugerem que dois treinos de musculação (de preferência em dias que não for correr) já proporcionam resultados interessantes em vários aspectos. Talvez os principais músculos  a serem trabalhados são os anteriores e posteriores de coxa, adutores e abdutores, panturrilha, trapézio e abdominais.

  O que você coloca no prato é importante para garantir energia e ficar bem para aguentar os treinos. Nessa distância você ainda não precisa de uma alimentação específica, mas já pode adotar hábitos alimentares que farão a diferença. O nutricionista é o profissional mais adequado para criar umadieta sob medida para você, mas algumas regras são universais: procure comer de três em três horas (ou no máximo de quatro em quatro), evite alimentos gordurosos e fique de olho nahidratação. Nessa fase, ainda não é necessário turbinar a ingestão de carboidrato

sábado, 16 de agosto de 2014

Brasil perde 199 jogadores abaixo de 20 anos desde a Copa-2010!

  O Brasil perdeu 199 jogadores abaixo de 20 anos no período entre as Copas de 2010 e de 2014. É o que aponta relatório da Fifa sobre transferência de jogadores no país desde o início de 2011. O documento confirma o perfil brasileiro de exportador de jovens talentos que levou a maior parte das seleções de base a ser formada por atletas de fora.
O relatório da Fifa sobre o Brasil foi divulgado em agosto e mostra que os clubes brasileiros faturaram um total de US$ 883 milhões (R$ 2 bilhões) em negociações de jogadores de janeiro 2011 até o meio de 2014, período em que a Fifa organizou o registro de transferências. Foram 5.003 atletas que saíram ou chegaram do país nesta época, o maior número entre todas as nações.
O total de jogadores que regressou ao Brasil supera o que foi embora, 3.692 contra 2.311. Isso pode dar a impressão enganosa de que o país está adquirindo talentos ao invés de perdê-los. Mas, na verdade, o futebol brasileiro tem importado atletas mais velhos e exportado outros mais novos.
Não por acaso há um valor superior arrecadado com as transferências em relação às despesas com as operações. O Brasil gastou apenas US$ 304 milhões (R$ 690 milhões) com as contratações, menos da metade do que ganhou com seus atletas. E o país contratou jogadores em média de 26,2 anos, enquanto negociou outros em média, de 24,8 anos.
O problema fica mais claro com o número de 199 jovens exportados pelo país, enquanto apenas 108 abaixo de 20 anos vieram para o país. “Como resultado, embora a diferença de média de idade seja pequena – chamando a atenção da atratividade dos clubes do Brasil – há um número substancial de jogadores jovens deixando o Brasil para jogar fora'', ressalta o relatório da Fifa.
Em 2014, caiu o número de negociações de jogadores brasileiros com o exterior. Foram 717 no total, com 444 contratações contra 273 atletas que deixaram o país. No mesmo período em 2013, foram 831.
A Europa continua como o mercado com maior interação com o Brasil, com cerca de 50% das operações entre jogadores. Em resumo, os clubes do velho continente levam nossos mais jovens valores, e o país a recruta aqueles que já estão mais velhos.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

NINHO DO GALO MAIS QUERIDO DO NORDESTE GANHANDO FORMA!

  
 A construção do NINHO DO GALO está a todo vapor na Barra de São Miguel. Um avanço significativo já pode ser visto no terreno do futuro CT que será primordial para o avanço do clube a partir de 2015.  De acordo com o encarregado da obra, Caio Roberto, o objetivo é concluir a primeira parte até este final de semana. A próxima fase será a construção do muro ao redor do terreno que será iniciada semana que vem e com previsão para ser concluída em 45 dias. No momento 25 operários trabalham na obra, número que será reforçado na semana que vem. Orçado em R$ 5 Milhões, o NINHO DO GALO, que contará com área comercial, residencial e um clube, além claro do CT será sem dúvidas o grande legado deixado pelo atual presidente Marcos Barbosa, já era hora do CRB contar com um centro de treinamento e poder assim tornar-se um clube de ponta no nordeste. ARRIBA GALO MAIS QUERIDO DO NORDESTE!

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Dicas para elevar o colesterol bom e diminuir o ruim!

Mulher alimentação saudável colesterol (Foto: Getty Images)

 DICAS DO CARDIOLOGISTA NABIL GHORAYEB

 Não é novidade, já cansamos de saber que é perigoso e, pior, ao ouvirmos conselhos médicos terroristas, nos incomodamos muito. Viram como é difícil explicar o assunto colesterol? Mas é necessário, pois o dia último 8 de agosto foi designado como o Dia Nacional de Combate ao Colesterol. Essa gordura é básica para a formação dos nossos hormônios sexuais e é o verdadeiro cimento que une as nossas células entre outras funções. O que interessa para o nosso Eu Atleta?
Sem dúvida, alguns conceitos como o de que não adianta usar o exercício físico para corrigir os níveis do colesterol LDL oxidado, conhecido como mau colesterol. Isso porque o seu excesso no sangue o leva a se depositar na capa interna das artérias (endotélio) ao longo dos anos, produzindo uma placa gordurosa (ateroma) que impede a passagem de sangue e suas possíveis consequências no corpo, infarto do miocárdio, derrame cerebral e gangrena nas pernas.
Geralmente, os adultos que tem problemas circulatórios devido aos níveis elevados desse colesterol podem ter certeza que essa história começou em geral 20 anos antes, até mesmo na infância. Se tiver pais ou irmãos com colesterol alto você deve conhecer os níveis do seu colesterol mesmo sendo criança.
A atividade física regular após 14 semanas consegue fazer com que o colesterol bom, o HDL se eleve no sangue, carregando e transferindo o LDL para ser metabolizado e aproveitado no
fígado. Mais uma vez, alertamos que para corrigir o excesso precisamos de uma mudança alimentar e o uso de poderosos medicamentos com possíveis efeitos colaterais e por isso só prescritos por médicos. Infelizmente o exercício físico em qualquer intensidade e volume não consegue diminuir o LDL mais do que 5% em média.
Confira dicas para elevar o colesterol bom e diminuir o ruim:
1- A atividade física regular e contínua eleva o colesterol bom após 12 a 14 semanas. Com a suspensão das atividades físicas por algum tempo, perde-se totalmente o benefício conseguido.
2- Consumir os chamados alimentos funcionais: grãos, fibras e cereais (aveia, soja), frutas com casca.
3- Ler o rótulo dos alimentos, evitando os que contêm gordura saturada, gordura trans e hidrogenada.
4- Comer mais grelhado ou assado ou cozido, peixes e aves sem a pele
5- Os derivados da uva são conhecidos como alimentos que elevam o HDL, tanto o suco como o vinho tinto (uma taça por dia) ou alterna-los na semana. A cerveja até 600 ml/dia também tem esse efeito segundo pesquisas recentes
6- Diminuir o consumo de derivados de leite integral, preparações à base de coco, bolachas recheadas e evitar frituras em geral
7- Falsos tratamentos ou inúteis: limão, suco de laranja com berinjela ou alho, casca de crustáceos e outros tratamentos naturais não diminuem essas gorduras.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

LEONARDO FALA SOBRE O NOSSO FUTEBOL!




   Como jogador, entre muitas conquistas, Leonardo ganhou títulos mundiais, pela seleção brasileira e pelo São Paulo; Brasileiros, por Flamengo e São Paulo; e da Liga dos Campeões, pelo Milan. Após pendurar as chuteiras, virou braço direito do presidente do clube italiano, onde também foi treinador, além de ter dirigido, em seguida, o seu maior rival, o Inter de Milão. Até o meio do ano passado, era o principal executivo do Paris Saint-Germain. De passagem pelo Brasil, após assistir à Copa na Europa, Leonardo analisou a atual situação do futebol brasileiro. E, com razão, defendeu mudanças radicais, conclamando a união de todos os envolvidos no esporte:
— Bom Senso, Romário, clubes, CBF, todos precisam se unir e caminhar juntos para uma grande reformulação. A gente tem que mudar a visão do todo. O Brasil é a sétima economia mundial, o futebol é a nossa grande paixão, mas, apesar de todo esse potencial, o mundo corporativo, e o próprio futebol, ainda vê o esporte como organização social, sem fins lucrativos. Isso limita demais a entrada de qualquer investimento. A visão tem que ser comercial, com fins lucrativos. O sistema do futebol tem que ser outro.

O EXEMPLO ALEMÃO

“Na Alemanha, foram criados centros federais, trabalho a longo prazo. Existe uma parte do projeto que é comum a todos. Aqui, todos defendem somente seus interesses. É preciso um movimento comum, no qual as pessoas convirjam para alguma coisa, que beneficie a todos. A CBF (antes, CBD) tem 100 anos. Como pode ser atual, se funciona da mesma maneira há um século? O que falta nessa engrenagem? Um grupo de executivos que conheça gerenciamento e futebol, e acorde e vá dormir pensando no desenvolvimento dele. A CBF é muito mais organizadora e controladora do que promotora do campeonato. Não acredito que o Marin e o Del Nero não queiram uma coisa que seja melhor pra eles, para os clubes e para o futebol brasileiro. A Premier League é o maior exemplo de sucesso profissional. Claro que, pelas nossas particularidades, não dá para pura e simplesmente implanta-la aqui. Mas muita coisa pode servir de exemplo. Temos que gerar ideias e riquezas. Nossa estrutura é muito engessada. A hora de mudar é essa.”

FORA DO MERCADO

“Precisamos criar uma nova estrutura para entrar no mercado. Estamos fora dele. Trabalhando direito, temos condições de fazer um NBA. Quanto custa o Neymar pra ficar aqui? Para o tamanho do negócio que se pode gerar, não é nada. Se, ao menos, fizéssemos um campeonato local forte, não precisaríamos nem competir com a Europa. A NBA não compete com ninguém e é um sucesso no mundo todo. Porque é um produto de altíssima qualidade. O Campeonato Brasileiro não passa em lugar nenhum do mundo. Não dá pra ver nem pela internet. Porque é um produto que não é reconhecido no mercado. Os jogos são desinteressantes, jogam em 70 metros, a TV não consegue nem enquadrar. Parece que há um desânimo, um conformismo. É assim mesmo, é assim que eu vou fazer e viver! E ainda se chama Brasileirão. Esse nome não pode ser internacional, nenhum estrangeiro entende, nem consegue pronunciar direito. Não vende lá fora...”

A IMPORTÂNCIA DA BASE

“Se a gente não tem uma base boa, ferrou. É como uma equação, erra a primeira soma, errou tudo. Isso acaba influenciando em todo o processo de formação. O menino que entra no Flamengo (e na maioria dos outros clubes), hoje, logo está dizendo ‘me tira daqui’. Ele quer é jogar na Europa. Eu, no meu tempo, quando entrava na Gávea, me benzia. Aquilo pra mim era um templo. A base hoje em dia tenta revelar jogadores pra vender. Quais são as receitas de um clube de futebol? TV, marketing, estádio e jogador . Na Europa, venda de jogador só contribui com 10% da receita. Aqui é muito mais. E a preocupação passa a ser vender logo a garotada. E se você negocia o jogador muito cedo, ele ainda nem está de fato formado. E muito talento se perde nisso.”

NEYMAR

“Neymar falou que no Brasil se treina pouco. E ele só descobriu isso aos 22 anos! Será que ele não poderia ser melhor se tivesse descoberto isso aos 18? Se tivesse tido outras opiniões táticas, poderia ser um autêntico 10. Hoje ele é muito mais hábil, jogando com uma linha atrás. Ele tem tempo, ainda pode vir a se tornar um craque completo. Mas poderia já ser. Taticamente estamos muito atrasados. Thiago Silva aprendeu a ser zagueiro na Europa. Antes era um monstro só no físico. Virou o melhor do mundo lá fora. No Brasil a gente aprende a jogar bola, não a jogar o jogo.”

TÉCNICA X TÁTICA

“Craque de bola é uma coisa. Ter estratégia é outra. A Alemanha hoje em dia tem talento, mas tem também estratégia. Já a Itália ganhou em 2006 só na estratégia. Materazzi, imagina, foi o artilheiro do time! Mas isso também é jogo! Só que a gente acha feio. Só que agora está todo mundo muito mais organizado taticamente. E para você conseguir fazer prevalecer o nosso talento, tem que estar organizado, pelo menos como eles. A gente precisa ter a visão do todo e depois colocar o jogador de talento. Aí, sim, vem o Neymar. Ele tem que ser o algo mais, não a base do time.”

MOTIVAÇÃO

“Aquele negócio de ‘vamos lá, vamos lá’, não funciona com o europeu. Isso ele rebate na hora: ‘motivação, não me pede, não, que eu já tenho’! Ele quer conteúdo. Quer saber a função e o que fazer, como se comportar, dentro de campo. Na verdade, os europeus veem o Brasil como o país que resolve no talento. Nunca uma conquista nossa foi atribuída, lá fora, ao treinador. O técnico brasileiro é mais forte em colocar os bons jogadores para fazer o que eles querem e não para armar o time taticamente. E o jogador brasileiro não gosta de discutir tática. É até cultural. A velha história do ‘dá aqui que eu resolvo’. Se não for um gênio, como Pelé, Maradona, Zico, Romário, não resolve mais, não. Da minha época, o técnico que mais claro mostrava o que queria era o Telê. Ele não era tático. Mas aperfeiçoava a técnica ao máximo! E com a qualidade técnica conseguia superar até a tática. Era um perfeccionista. Naquela época, a técnica fazia a diferença. Mas hoje, com a escola europeia jogando o que está jogando, um time só técnico está morto.”

7 x 1

“Não quero criticar apenas um jogo. Mas todo mundo sabia que a Alemanha ia pressionar a nossa saída de bola desde o início. Estava escrito. Se fosse um treinador italiano, ia dizer pro David Luiz mandar a bola lá pra frente e todo mundo sair. Os caras são melhores que a gente. Não dava pra jogar normalmente. Não sou contra um técnico estrangeiro, mas não acho imprescindível. Mourinho e Guardiola, sim. Não porque são estrangeiros. Mas porque são os melhores.”

CLUBES/ INVESTIMENTOS

“Os clubes têm que tomar a iniciativa! Porque sem eles não tem campeonato, não tem seleção, não tem nada. Campeonato sem CBF tem, sem Federação tem, sem clube, não. Os grandes atores são os clubes. E eles não podem estar tão enfraquecidos. E não adianta só sanear a dívida. Senão mudar o sistema e gerar riqueza, não resolve. Vai dever de novo. Para o campeonato ser forte, os clubes têm que ser fortes. Sem isso, é impossível. Precisamos abrir as portas dos clubes para as riquezas existentes no Brasil ou mesmo para as estrangeiras: o Chelsea é de um russo, o Paris Saint Germain, do Qatar, o (Manchester) United, dos americanos, a Roma também. As riquezas italianas estão no Milan, na Inter, Juventus a Fiat. O Bayern tem por trás a Mercedes. E nós estamos fora do mercado! Tem que profissionalizar a visão! Se um louco milionário resolve botar toda a riqueza dele no Flamengo, não pode. E o futebol está nas mãos dos empresários... Ora, já estamos penhorados. O cara entra numa falha do sistema. Quando disse, numa entrevista, há algum tempo, que deveriam vender o Flamengo, era a esse tipo de investimento a que me referia. A gente precisa criar uma estrutura para alguém colocar dinheiro. Só que quem botar 200 milhões de euros vai querer o comando e lucro. E terá um grupo de gestores que vai cuidar do investimento. Assim funciona. Mas hoje em dia, nenhuma assembleia de clube aceitaria um investimento como esse. Por política, medo, insegurança. Ora, o Flamengo já está vendido (para os credores de sua divida). E todos os clubes estão mais ou menos na mesma situação. Se alguém fosse dono ia lutar mais pra não perder o próprio patrimônio. Tem que descobrir onde está esse dinheiro e botar no futebol. Faturamento de 300 milhões ainda é pouco para resolver os nossos problemas.”