sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Torcida única em clássico é mais uma violência contra o futebol

Torcida Palmeiras - Arena Palmeiras (Foto: Marcos Ribolli)

Proibição de corintianos no estádio do Palmeiras esconde problemas: incapacidade de garantir segurança e impunidade. Maiores brigas acontecem longe do estádio



     A determinação de torcida única no clássico entre Palmeiras e Corinthians é mais uma vitória da incompetência no futebol brasileiro. No caso, das autoridades, que não conseguem garantir a segurança da maioria do público diante do vandalismo de uma minoria. Ou seja, nada além do retrato de uma questão social e generalizada que também se reflete no esporte.
Pior: a medida nem mesmo é eficaz. Reportagem do "LANCE!" desta sexta-feira mostra que nove das 275 mortes ligadas ao futebol ocorreram nos estádios. A última vítima, no dia 25 de janeiro deste ano, se envolveu em briga num domingo em que o Corinthians jogou de manhã, no Pacaembu, e o Palmeiras à noite, em seu estádio. Na Argentina, por exemplo, a torcida visitante já foi vetada há mais de um ano e as mortes não cessaram.
Os pontos de violência na cidade de São Paulo são conhecidos há anos. São sempre as mesmas avenidas ou estações. Os "encontros" são marcados nas redes sociais. O que o Ministério Público e a Polícia Militar farão no domingo? Proibirão os corintianos de saírem de casa? "Olha, seu José, o senhor não pode ir à padaria hoje porque haverá palmeirenses circulando por aí".
Proibir os corintianos de irem ao estádio do Palmeiras não adiantará nada, assim como não adiantaria se fosse o contrário ou em nenhum outro caso. Só vai despertar ainda mais a fúria e prosseguir com a mutilação do charme de um dos clássicos mais tradicionais do mundo.
Assistir a um jogo de futebol no estádio equivale a uma sensação única, um prazer indescritível. Aos poucos, o paulistano perde até isso. Não pode mais ter bandeiras, não pode máscaras, não pode instrumentos musicais, não pode tomar cerveja, não pode ter torcida visitante. O futebol foi derrotado pelo "não". É a casa do "não".
Isso interfere no espetáculo. O jogador do Corinthians não poderá ser inflamado pelo grito de seu torcedor, não poderá se esforçar para, no fim da partida, olhar para ele e dizer: "Obrigado por ter vindo, valeu a pena!". E o atleta do Palmeiras não poderá dedicar cada gota de suor a vencer e deixar o recado ao corintiano: "Aqui, não!".
Não, não e não... "Sim", apenas para a violência, já que os torcedores que brigam, matam e espalham terror continuam frequentando estádios livremente. Se não forem num domingo, voltam na quarta, no sábado. E continuarão vetando direitos da maioria graças à impunidade e à transferência de responsabilidades das autoridades.

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