POR GUSTAVO LUZ!
A partir do momento que você faz a sua primeira prova e começa a gostar daquele clima de competição, você se torna um competidor e entra em uma espécie de novo mundo. E algum tempo depois, percebe que cruzou uma linha que divide corrida para a saúde de treinamento para competição. O perigoso é que os competidores iniciantes quase sempre querem mais resultados do que é possível. O cérebro, em busca da perfeição, logo começa a exigir mais do que o corpo pode oferecer. A não ser que o seu treino seja preparado e feito de forma cautelosa e respeitando as evoluções da sua fisiologia e as variáveis do seu dia-a-dia (trabalho, sono, alimentação), você pode acabar acometido pelo mal mais comum entre os corredores – o “overtraining” (que pode ser entendido como treinar mais do que o corpo aguenta).
Em alguns corredores, os primeiros sinais de “overtraining” são fadiga generalizada, dores de cabeça recorrentes, diarreia e perda de peso, desinteresse sexual, perda de apetite e queda do desempenho intelectual (podendo afetar o trabalho). Outros têm a sensação de que não são mais capazes de dormir com qualidade e tem problemas acordando durante a noite, não conseguem relaxar, apresentam pioras em quadros alérgicos e resfriados, além de infecções respiratórias que podem se alastrar por semanas e, às vezes, são resistentes à terapia convencional.
Na verdade, todos esses sintomas são diagnósticos. Se você se colocou em situação de “overtraining”, seu corpo foi exigido além dos limites e agora você precisa de descanso, não de treino. E, talvez, a atitude mais sensata seja esperar o seu corpo restabelecer o nível de energia necessário para que você possa voltar a competir com segurança – reduzindo sua carga de treinos ou mesmo tirando umas semanas de férias da corrida. É importante ter a percepção de que treinar demais não significa apenas aumentar o volume ou a intensidade dos seus treinos sem estar com o corpo preparado para isso. Se você está em um período da vida em que está trabalhando demais e descansando de menos, por exemplo, aquele ritmo de treino que está acostumado pode virar um excesso e progressivamente você apresenta uma piora de rendimento em treinos e provas.
Tim Noakes, um peso pesado na pesquisa sobre corrida e com décadas de experiência, sugere que as duas principais causas de “overtraining” são os treinos intensos por um período prolongado demais e uma sequência de provas em um curto espaço de tempo, sem o descanso necessário para uma plena recuperação após um esforço de competição. Pete Pfitzinger, outra fera da pesquisa na área, indica em seus estudos que a redução da intensidade dos treinos é mais importante do que a redução do volume dos mesmos quando você começa a perceber que está passando do ponto.
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