Já imaginou se nos uníssemos para agir pela sociedade do mesmo jeito que fazemos para torcer pela seleção brasileira?
Ser patriota não é torcer pelo time de futebol que representa seu país. Em épocas de Copa do Mundo, temos nossa convicção viciada pelo fato de sempre podermos torcer por uma seleção de ponta, que invariavelmente integra o grupo de elite da competição, raramente não ficando entre as 4 melhores. Quão patriota somos ou quanto amor temos por algo que dificilmente nos decepcionará?
Analogicamente falando e guardadas as devidas proporções, fazendo a leitura de todo esse contexto fervoroso que assola o brasileiro em época de Copa, tenho a seleção brasileira como uma mãe. A mãe está lá, sempre presente e disposta a fazer o seu melhor, nos alegrando e enfrentando a todos. Muito fácil amar assim. Já disse e reitero, preservo aqui as pertinentes proporções.
Vestimos a camisa cheirando a naftalina que tiramos do fundo da gaveta esquecida desde a eliminação pra Holanda em 2010 e entoamos, assolados por um anseio explícito de representatividade positiva internacional, o famigerado “Eu, sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”. É a nossa chance de lavarmos perante a humanidade nosso complexo de inferioridade arraigado desde os tempos de colônia.
Quanto complexo de inferioridade! Não, cara. Você não é brasileiro com muito orgulho e com muito amor. Você torce pra seleção brasileira com muito orgulho e com muito amor porque ela é boa pra caralho, ganha quase tudo que disputa e tem mais títulos que todas as outras.
Patriotismo é outra coisa. Você passou seus últimos 4 anos reclamando do seu salário, do seu patrão, dos políticos que você mesmo elegeu, dos tributos exorbitantes e só meteu o pau no país. Falou mal do Lula, condenou a violência, se indignou com a impunidade, rechaçou a desigualdade social e agora vem me dizer que ama isso tudo?
Segundo o Aurélio, “patriota é aquele que tem amor pela sua pátria e procura servi-la”. A-há! Te peguei, não? Aproveitando-me das sábias palavras do ex-presidente estadunidense John F. Kennedy, não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas sim o que você pode fazer pelo seu país.
De que forma você tem servido ao seu país? Você diz não se orgulhar de seu país, mas não tem dado motivo algum para que seu país se orgulhe de você.
Para sermos patriotas temos de amar esta nação como amamos nossos próprios filhos, exigirmos nossos direitos de cidadãos, sermos unidos diariamente, cuidarmos do país desde uma iniciativa popular até um simples ato como não jogar papel de bala pelo vidro do carro. Postura íntegra, humanitária, retidão e excelência moral, probidade perante a sociedade. Atitudes que fazem seu país se orgulhar de você, pois todos saberão que qualquer atividade, em qualquer instância, estará segura sob seu cuidado.
Para concluir, é bem verdade que patriotismo não tem ligação alguma com o amor que temos pela nossa seleção de futebol. Saiba que enquanto você se distrai com esse picadeiro de luxo, governantes estão maquinando algo, políticos estão votando alguma lei escusa e o mundo não parou.
Quer mudar o país e poder bater no peito como um grande patriota? Saiba que a mudança está em você. Caso contrário, pegue sua camisa velha cheirando a naftalina lá do fundo da gaveta novamente daqui a 4 anos, pinte seu rosto de verde e amarelo e saia às ruas cobrando patriotismo alheio. Só não se esqueça do nariz vermelho e da peruca colorida.
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